As montadoras da indústria automobilística tem enfrentado diversos desafios nos últimos anos, especialmente devido à pandemia do COVID-19, que resultou em paralisações temporárias e problemas na cadeia de suprimentos. Essa situação tem gerado impacto significativo no mercado de carros novos e usados.
Nas últimas semanas, cinco montadoras foram forçadas a interromper a produção de veículos no Brasil e conceder férias coletivas aos seus funcionários, justificando a escassez de componentes eletrônicos necessários para equipar os modelos recém-fabricados, como aconteceu no ano de 2020.
Na ocasião anterior em que as montadoras interromperam a produção devido à falta de semicondutores, há três anos, houve escassez de veículos no mercado. Os consumidores foram forçados a buscar carros usados, cujos preços sofreram um aumento de até 25%. Entretanto, a situação atual não é mais a mesma.
No entanto, existe um consenso no mercado de que a realidade é a demanda por carros zero quilômetro diminuiu em 2023, levando a alta de estoques. Apesar do aumento nos pátios e do reforço nos estoques, as montadoras não têm previsão de reduzir — pelo menos no curto prazo — os preços dos veículos novos.
As montadoras que pararam foram Volkswagen, GM, Stellantis, Mercedes-Benz e Hyundai. Elas dizem que estão ajustando a produção à nova demanda do mercado. A justificativa é que houve diminuição nas vendas de carros novos devido ao aumento dos juros e encarecimento dos financiamentos.
Se o mercado de modelos novos está com baixa demanda, o que acontecerá com os usados? Este artigo analisa como a paralisação das montadoras afeta o preço dos carros usados e quais são as expectativas para o futuro desse mercado.

Cenário das montadoras de veículos nos últimos anos
A pandemia do COVID-19 gerou paralisações temporárias e problemas na cadeia de suprimentos, afetando a produção de veículos e componentes automotivos em todo o mundo. As restrições de mobilidade e o distanciamento social afetaram a capacidade das fábricas de operar normalmente, resultando em atrasos na produção e entrega de carros novos.
Outro desafio enfrentado pela indústria automobilística é a escassez global de semicondutores, componentes essenciais para a fabricação de automóveis modernos. A demanda por semicondutores aumentou durante a pandemia devido ao crescimento do trabalho remoto e ao consumo de eletrônicos. Isso resultou em uma competição por recursos limitados entre diferentes setores, impactando diretamente a produção de veículos.
Outra questão é a mudança do perfil dos consumidores, com uma crescente preocupação com a sustentabilidade e o meio ambiente. Isso resulta em uma maior demanda por veículos elétricos e híbridos, o que pressiona a indústria automobilística a adaptar-se rapidamente a essa nova realidade.
Montadoras e o mercado de carros usados
No mercado de carros usados, seus preços são influenciados por diversos fatores, como idade, quilometragem, condição geral do veículo, marca e modelo, demanda e oferta no mercado, além de fatores macroeconômicos, como taxas de juros e nível de emprego.
A oferta e a demanda no mercado de carros usados estão inter-relacionadas. Quando a oferta de veículos novos diminui, os consumidores tendem a buscar opções no mercado secundário, aumentando a demanda e, consequentemente, os preços dos carros usados.
O que não é o caso do momento, pois há muitos carros novos parados e a demanda por esse tipo de veículo vem caindo, devido ao preço, juros altos e dificuldade de financiamento e crediário junto aos bancos. Logo, isso gera uma procura maior pelos carros usados, elevando os preços no mercado secundário.
Preços
Com a maior demanda por veículos usados, os preços desses tenderão a aumentar. É a velha questão da lei da oferta e da procura. Mas, por que será que já não há procura pelos veículos novos, os mesmos não abaixam o seu preço?
Em teoria, o excedente de produção deveria estabelecer novas condições para a comercialização de veículos, seguindo a conhecida lei da oferta e demanda. No entanto, analistas afirmam que as montadoras não podem renunciar às margens de lucro devido às dificuldades enfrentadas durante a pandemia de Covid.
Com os custos de produção elevados devido aos obstáculos logísticos e à escassez de matéria-prima nos últimos anos, as empresas precisam recuperar o “dinheiro perdido”. Embora as cadeias logísticas tenham melhorado em 2022, a guerra na Ucrânia gerou novos impactos nos preços das commodities necessárias para a indústria.
Esse é o caso dos metais utilizados em semicondutores, componentes responsáveis pela condução das correntes elétricas. Esses chips são essenciais para a montagem de automóveis e dispositivos eletrônicos, que também experimentaram um aumento na demanda durante a pandemia.
Portanto, os consumidores buscam pagar mais por um veículo usado devido à dificuldade de encontrar um carro novo a um preço acessível.

Montadoras e a busca por alternativas mais econômicas e sustentáveis
Os consumidores estão buscando alternativas mais econômicas e sustentáveis, optando por carros usados e seminovos com menor consumo de combustível e menor impacto ambiental.
Adicionalmente, o mercado enfrenta um período de intensa competitividade, uma vez que as montadoras estão em uma corrida contra o tempo para desenvolver veículos que utilizem novas fontes de energia. A eletrificação da linha de produção exige investimentos em pesquisa e eficiência, de modo que o produto final possa ter um preço competitivo no mercado.
Mudanças no comportamento do consumidor
Também podemos falar na mudança das escolhas do consumidor. Pois, não basta apenas comprar um veículo, é preciso mantê-lo. Com os custos de manutenção, aumento da gasolina, entre outros, tem levado algumas pessoas a optarem por outros meios de transporte, seja público, bicicleta, aplicativos de mobilidade, e demais opções possíveis.
O comportamento do consumidor tem evoluído, com maior interesse em soluções de compartilhamento de veículos, aluguel de carros e transporte público. Essa mudança reflete a busca por alternativas mais econômicas e sustentáveis, reduzindo a dependência do transporte individual e otimizando o uso dos recursos.
A importância dos carros seminovos
Carros seminovos, com poucos anos de uso e baixa quilometragem, estão se tornando cada vez mais atraentes para os consumidores. Eles oferecem uma opção mais econômica em comparação aos veículos novos, mantendo boa parte das características e benefícios de um carro recém-saído da concessionária.
Montadoras: perspectivas de crescimento e recuperação
A indústria automobilística enfrenta o desafio de se adaptar a um cenário em constante mudança, com a demanda por veículos elétricos e sustentáveis em ascensão. Montadoras que investirem em pesquisa e desenvolvimento, além de aumentar a eficiência em sua cadeia de produção e suprimentos, terão mais chances de crescer e recuperar-se dos impactos gerados pela pandemia e pela escassez de semicondutores.
Em resumo, o mercado de carros usados tem se mostrado resiliente diante dos desafios enfrentados pela indústria automobilística. A paralisação das montadoras e os problemas na cadeia de suprimentos têm contribuído para o aumento dos preços dos veículos usados, à medida que os consumidores buscam alternativas mais econômicas e sustentáveis.
As tendências apontam para um aumento na demanda por carros seminovos e elétricos, bem como mudanças no comportamento do consumidor, como a busca por soluções de compartilhamento de veículos e uso mais consciente do transporte individual.
A recuperação da indústria automobilística dependerá da capacidade das montadoras de se adaptarem a esse novo cenário e oferecerem produtos que atendam às necessidades e expectativas dos consumidores.